18.2.16

Filme Cinco Graças ou "Manual para se matar uma mulher”





Indicado ao Oscar de 2016, na categoria de melhor filme estrangeiro, Mustang (Cinco Graças) da diretora turca/francesa Deniz Gamze Ergüven escancara um mundo arcaico, onde se abate o desejo da mulher. 

O filme é narrado por Lale, a caçula das cinco irmãs, e relata o cotidiano das jovens que anseiam a liberdade, mas são tolhidas pelo tio e pela avó, responsáveis por elas.

Tudo acontece porque na saída da escola, num dia ensolarado, as cinco jovens que estão em plena descoberta de suas vontades e, portanto, a sexualidade aflorada, decidem voltar para a casa pela praia, acompanhadas dos meninos. Eles caminham na areia, brincam na água, se abraçam e se empurram, o suficiente para que seus tutores passem a proibi-las de voltar à escola. Pois, segundo a rígida cultura mulçumana, brincar com garotos é uma orgia. 

Aos poucos elas vão sendo aprisionadas por essa cultura que no filme é representada pela casa.

Primeiro, elas são obrigadas a vestir túnica, passam a ter aulas de culinária, só podem tomar sol no quintal e brincar no quarto. Mas isso não as impedem de fugir momentaneamente para ver, por exemplo, uma partida de futebol. 

Após esse episódio, surgem as grades nas portas para que elas não saiam sem a permissão do tio.

A partir daí as janelas passam a ser suas rotas de fuga. Elas pulam para encontrar namorados ou para dirigir carros. Então, a família decide colocar as grades nas janelas, criando uma cadeia domiciliar. 

As meninas vão perdendo sua vitalidade. Elas só saem de casa para os casamentos arranjados pela família. 

A irmã mais velha consegue ser prometida para o próprio namorado (namoro proibido) o que faz dela uma mulher realizada. 

A segunda não tem a mesma sorte, ela casa com um desconhecido e passa a viver de forma submissa. 
No dia de núpcias, após a primeira relação, o marido olha o lençol e não vê sangue, ele entra em desespero. Ao ser examinada no médico, numa forma de acabar com o casamento, ela fala ao doutor que já transou com o mundo inteiro, mas ele a questiona da tal afirmação, já que o hímen não fora rompido, e isso só aconteceria nas próximas relações ou no parto. É o fim para ela.

A irmã do meio, por não aguentar a pressão, comete um suicídio. 

Lale, ao ver que a única irmã que restou também foi prometida, no dia do casamento, decide armar um plano e fugir com ela para Istambul. 

O filme faz uma dura crítica a cultura turca. Ele se apresenta como manifesto à liberdade àquelas mulheres. E esta liberdade está no vento que sopra nos cabelos das garotas, numa carroceria do caminhão; na transa da jovem com um desconhecido no banco traseiro do carro do tio; no olhar de deslumbramento de Lane ao acordar na quarta maior cidade do mundo. 

Entre tantos conflitos políticos e religiosos em que o país atravessou (e atravessa) ao longo dos anos, o conflito narrado pela diretora é o feminino e, portanto, universal. 

Numa época não muito distante, em muitos lugares, inclusive no Brasil, a mulher vivia como um ser inferior, podendo levar surras ou até mesmo mortas se se comprovasse um adultério. Até hoje essa cultura prevalece, mesmo que as leis tenham mudado. 

No Brasil, a mulher sofre algum tipo de violência a cada 15 segundos. Como disse a ex-Ministra-Chefe da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Eleonora Meneghutti: “Infelizmente, a violência contra a mulher é democrática, não tem classe social, nem raça, nem cor”.

E se aqui é difícil, no mundo de Lale é quase impossível sonhar com a Liberdade. 

Deniz debuta sua arte no cinema com coragem e sensibilidade. Se o filme ganha ou não a estatueta norte americana, não sabemos. Mas isso também não importa. O que sabemos é que “Mustang” (Cinco Graças) é um filme obrigatório. 


Gênero: Drama
Direção: Deniz Gamze Ergüven
Roteiro: Alice Winocour, Deniz Gamze Ergüven
Elenco: Ayberk Pekcan, Aynur Komecoglu, Bahar Kerimoglu, Burak Yigit, Doga Zeynep Doguslu, Elit Iscan, Erol Afsin, Günes Sensoy, Ilayda Akdogan, Kadir Celebi, Müzeyyen Celebi, Nihal G. Koldas, Rukiye Sariahmet, Serife Kara, Serpil Reis, Suzanne Marrot, Tugba Sunguroglu
Duração: 97 min.
Ano: 2015

Classificação: 14 anos



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